segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Lembranças do passado

Será que é sinal de velhice?

Bom, já faço logo um alerta: não esperem nesta postagem aquela "velha" relação de coisas que sinalizam que nós estamos ficando velhos, tipo Disco de Vinil, Fita Cassete, telefone de discar (com disco), etc.

Não é disso que quero falar!

De um tempo para cá tem me ocorrido, assim, quase que do nada, lembranças do meu passado; não passado recente, mas passado bem distante; lembranças de detalhes que normalmente eu não me lembraria assim, do nada e que não foram tão marcantes ou relevantes como por exemplo lembrar de quando quebrei a perna e passei 6 meses com ela engessada. Falo de lembranças de pessoas, frases, coisas que fiz, comidas que experimentei, sons que ouvi, imagens que capturei e ficaram registradas, principalmente de quando eu era criança.

Será que esse é um verdadeiro sinal do envelhecimento ou que estou mais próximo da morte? Sim. Por que não falar da morte? A morte é a única certeza que temos na vida. Poderia falar "zilhões" de coisas sobre a morte e os "procedimentos" e/ou rituais fúnebre da nossa sociedade, mas isso fica para outra postagem.

Voltando, sempre ouvir dizer que quando estamos na "beira da morte" ou bem no final da vida, lembranças da nossa existência são passadas que nem um filme na nossa mente. Não sei ao certo se é na ordem cronológica crescente ou decrescente) - será que é verdade? Bom, aí é que mora o "problema". Me pergunto: será que pelo fato d'eu estar tendo essas "estranhas" lembranças não é um sinal que estou mais perto do fim da vida e, agora, como no formato de "trailler" , essas lembranças me vêm como prenúncio da morte?

Registro que não tenho medo de morrer. Não mesmo. Meu único ressentimento é não poder preparar (mais) meu filhote para a vida. Sei que ele vai sobreviver e que terá pessoas boas, para passar bons valores e princípios, além da excelente mãe que ele tem, caso eu "bata as botas" - mais uma vez, não é sobre isso que quero falar.

Retornando, outra preocupação que aflige é a sensação de que ao lembrar desses detalhes do passado eu nunca mais me lembre deles; é como se "gastasse"; como se tivesse apenas uma oportunidade de lembrar (e viver a boa ou má lembrança) e pronto: acabou, gastou, não lembrarei mais. Digo isso porque hoje não consigo lembrar de quais lembranças "estranhas" tive ultimamente - será que é porque "gastei" ou porque estou ficando velho mesmo e não me consigo mais me lembrar do passado recente? (vixe! que confusão, né? é uma "meta-lembrança" - lembrança da lembrança - hehehehe)

Isso me leva a um fato importante, sempre me disseram que o Mal de Alzheimer é genético e minha avó materna morreu faz 2 anos, pelo menos (se me lembro bem, rsrsrsrs), desta doença degenerativa. Fico na paranóia: será que estou com Mal de Alzheimer? Ou com o início dele? Já estou correndo para marcar consulta com um geriatra e/ou um psiquiatra!

Tenho uma tia, irmã de minha mãe que já está dando sinais de esquecimento; e olhe que ela é mais nova que minha mãe!

Lembro como o Alzheimer chegou em minha avó aos poucos. Eram esquecimentos leves, inicialmente, até ir se complicando, como esquecer o nome dos filhos, seu próprio nome, aonde estava, não saber o que é tomar banho, como se limpar - e porque se limpar - entre outras coisas. Apesar de todo esse esquecimento, ela se lembrava, assim do nada, de coisas que aconteceram com ela quando era pequena! Falava muito do pai dela na fazenda, das coisas que ele dizia e/ou fazia. Lembrava dos irmãos, de quando veio para Salvador para estudar, lembrava do nome das professoras, dos alunos dela, de detalhes do passado. Minha avó morreu com quase noventa anos. Percebi que o esquecimento dela começou com os fatos recentes. Ela se esquecia, por exemplo, que acendeu a boca do fogão ao retirar uma panela do fogo e deixava a boca acesa! (como consegui lembra disso? hehehehe)

É este ponto que me preocupa. Tenho me esquecido frequentemente de coisas recentes. Chego ao ponto de me levantar para fazer alguma coisa e no meio do caminho me esquecer o que eu ia fazer. Você pode dizer que isso é normal. Tudo bem. Mas até um certo limite, não é? Vou além, não consigo lembrar de nome de atores da atualidade, de nomes de filmes que assisti recentemente ou de música e seus compositores/cantores.

Que diabos está acontecendo comigo????

Imaginem que até para escrever tenho me esquecido com frequência a grafia correta das palavras! Acredito que normalmente vamos acumulando conhecimento e aprendendo a grafia correta das palavras, principalmente quanto o editor de texto marca as palavras erradas. Fico me perguntando: como me esqueci a grafia desta palavra? E pior, são palavras que utilizamos normalmente! Isso está me assustando!

Bom, para terminar, como sou impressionista, estou sempre tendendo à opção da velhice, da proximidade da morte, ou, de forma mais "elegante", do fim da vida. É o sinal! Tenho certeza que estou mais "prá lá do que prá cá" - é matemática/estatística: já passei da metadade da expectativa de vida do brasileiro.

Como disse, isso não me preocupa muito. Aliás, me faz é querer curtir a vida cada vez mais, aproveitar mais cada momento, conhecer mais, experimentar mais, perder mais o juízo (quero dizer: não me podar tanto), por que a vida é curta!!

Então fica a dica: "carpe diem" - esse é meu lema - e acrescento: sem arrependimentos - odeio arrependimento (mas isso fica para outra postagem ;)

A vantagem de ter péssima memória é divertir-se muitas vezes com as mesmas coisas boas como se fosse a primeira vez.
Friedrich Nietzsche

Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito.
Machado de Assis

O esquecimento é a morte de tudo quanto vive no coração.
Alphonse Karr

O esquecimento é maior que a morte, porque termina o que a morte começou.
Valter da Rosa Borges

Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te.
William Shakespeare

"Rerum irrecuperabilium summa felicitas oblivio."
O esquecimento das coisas irrecuperáveis é a maior felicidade