domingo, 17 de janeiro de 2016

Sobre relacionamentos

O que sustenta uma relação?


Fazendo uma introdução ao tema, do porquê escrevo sobre isso, quero registrar que as postagens feitas nunca foram "do nada". Sempre tiveram alguma ligação com o que estou sentindo, passando, vivendo no momento. Ou seja, as postagens são frutos de sentimentos verdadeiros e não são empíricas, não são suposições, ensaios ou um mero "pensar sobre".

Uma vez dito, vou falar sobre relacionamentos, especificamente relacionamentos amorosos. Os demais relacionamentos (como já foi falado anteriormente aqui) ficam para outra postagem.

Como um bom geminiano, como um bom "matemático" ou um bom ser "racional", venho tentando encontrar, identificar padrões, modelos, que nem Descartes falava em estabelecer modelos matemáticos para todos os eventos da natureza; Eu não chego a tanto; a querer estabelecer modelos ou padrões universais, mesmo porquê para quem não acredita em uma "verdade universal", uma verdade única (já postei sobre isso aqui), isso seria praticamente "impossível" (mas ainda assim é questionável). A proposta não é essa. Mas, ainda assim, com essa "veia matemática", arrisco a dizer que, na tentativa de explicar ou identificar o que sustenta uma relação (amorosa - esse é o foco da postagem), não importando (quero deixar claro) quais relações sejam, de homem para homem, mulher para mulher ou mulher para homem, ainda assim são relações, não é o sexo, a paixão ou o amor que a sustenta.

Vamos começar pela paixão. Essa é a forma menos provável de ser um sentimento que sustente uma relação, exatamente pela sua efemeridade. Mesmo sendo intensa, forte, urgente, arrebatadora, ainda assim, é breve. É curta. Tem os dias contados. Aparentemente, dá a impressão, aos apaixonados, que aquilo vai durar "para sempre"! Sim! É verdade! Nos dá essa impressão (como disse Vinícius de Moraes, "que seja eterna enquanto dure"). Mas como nada é eterno, como já comentado aqui, nem a nossa vida é eterna, imagine a paixão! Pode durar um dia, uma semana, um mês, um ano, uma década, mas ainda assim terá um fim (nem que seja pela morte do ser amado - não existe Matusalém); Mas não vamos discutir essa questão. Fora a paixão, que ilusoriamente nos faz acreditar em uma relação "eterna", temos ainda o sexo e o amor.

O sexo... bem... esse é mais "polêmico" que a paixão exatamente por ser (acredito e classifico assim) um sentimento visceral, uma necessidade fisiológica do ser (animal) humano. Então, pensando dessa forma, dispensa maiores comentários sobre o sexo manter, sustentar uma relação. É claro, não posso deixar de registrar, que tem muitas relações que se baseiam nisso. Em que o sexo é maravilhoso, estupendo, sem igual, inenarrável. Sim! Existe! Claro! Acredito que para pessoas que são altamente sexuais (mais animais que seres sociais), sim, sustenta (por um bom tempo) a relação. Mas ainda assim, acredito que é, de certa forma, efêmero, similarmente à paixão. Ainda mais na sociedade em que vivemos que cultua relações monogâmicas (farei outra postagem sobre relações monogâmicas, poligâmicas, etc... por enquanto deixo a seguinte frase: "a traição é a não monogamia numa relação monogâmica" - veja aqui).

Vamos ao amor. Ah! O Amor! Muitos acreditam que o amor é supremo, é superior a tudo, transcende, ultrapassa toda a nossa racionalidade. É assim por um simples motivo: foi construído nas nossas mentes dessa forma! O "amor", assim como vários outros princípios e valores, é construído, é uma convenção social em que nós somos condicionados, educados, até adestrados, a enaltecer, como a mais pura verdade, como uma coisa "impossível" de se alcançar, como o mais puro dos sentimentos. Que seja! Não quero aqui, agora, debater ou discutir sobre o amor (além de outras postagens, tenho uma visão mais política/social sobre o amor); O fato, que estou considerando nesta postagem, é o "amor" comum, "amor sexual" (só para deixar claro, não é o amor maternal/paternal, fraternal, de amizade, ou outro qualquer). Estou falando de amor entre pessoas (sem o vínculo parental - ou até que exista, já que foi criada a palavra "incesto" para isso; enfim, não é o foco desta postagem). Esse amor ao qual estou me referindo, como postado anteriormente aqui, é o amor construído, aos poucos, lentamente, "tijolo por tijolo". 

Sobre esse amor construído, edificado, podemos ver diversos exemplos dessas construções. Verdadeiros "castelos", construídos "tijolo por tijolo", durante anos, de forma perfeita! Mas, vazios. Grandes construções, mas ocos, sem móveis, sem conteúdo. Os construtores se orgulham em expor seu feito para a sociedade: olhem que construção linda, sólida, inabalável... foram 50 anos de dedicação, esforço, luta, blá blá blá... mas, ainda assim vazio, sem conteúdo, sem essência. De que adianta viver de aparências, de estética, de "modelos"? Desfaço, derrubo, desconstruo esse tipo de amor falso, "fake". Mas, infelizmente, as pessoas que fazem essa grande edificação, olham para trás e não têm coragem de largar, abrir mão, derrubar, demolir o que foi construído, pois gastaram tempo, força, esforço, sentimentos, dedicação e vários outros sentimentos. Por isso sustentam, mantêm, todo o castelo. Não é fácil. Não estou dizendo que é fácil. Mas se quisermos ser verdadeiros conosco e com o outro, podemos, devemos, derrubar essa construção e nos darmos a chance de construirmos outro prédio, casa, casebre que seja, mas de forma consistente e preenchê-lo com sentimentos, vivências, com vida. Mas ainda assim, não é o foco da postagem. Quero falar sobre, então, o que sustenta, verdadeiramente, uma relação?

É simples. Existem outros sentimentos que, acredito, sejam mais significativos para uma relação. Amizade, afinidade, admiração pelo outro, companheirismo, lealdade, cumplicidade, compreensão, paciência, congruência na forma de viver, nos princípios e valores; nos quereres; na forma de encarar as dificuldades; o saber ceder, abrir mão de coisas, de momentos, tudo isso compõe a "fórmula" da sustentação de um relacionamento (apesar d'eu ser bem egoísta quanto a isso - cabe outra postagem a respeito). Ou seja, acredito que pode existir relação sem paixão, sem amor e sem sexo. Pode-se sim estabelecer relação sem esses itens. Acredito! Podemos, sim, ver felicidade entre as pessoas que se relacionam assim, sem esses sentimentos - até dizem que é amor. Sim. Mas não o amor carnal, visceral. É um outro tipo de amor - que seja! Contanto que um não seja o "objetivo" do outro, como um objeto de conquista; porquê de assim for, uma vez conquistado perde-se o sentido da busca. 

O que acredito sobre o que é amor (da forma que penso) é tudo isso que falei. Pode conter todos esses sentimento citados acima. Mas não é só isso. É transcendente. "Sobrenatural". Não se explica. Existe e pronto. E para polemizar, não perdendo meu jeito de ser, eu dou o nome que eu quiser ao o que eu sinto. É meu sentimento e pronto. E isso basta para mim (demonstrando meu egoísmo). 

Enfim, resumindo, sexo, amor e paixão não sustentam relacionamento. Relacionamento se sustenta por  afinidade, por uma empatia forte, por uma sintonia de quereres e interesses.

"Uma relação nem sempre termina pq não é feliz. Às vezes termina para preservar a felicidade da memória." (Fabrício Carpinejar)

"As pessoas são responsáveis e inocentes em relação ao que acontece com elas, sendo autoras de boa parte de suas escolhas e omissões." (Lya Luft)

"Seja qual for o relacionamento que você atraiu para dentro de sua vida, numa determinada época, ele foi aquilo de que você precisava naquele momento" (Deepak Chopra)

"... o único encanto do casamento está na vida de decepção indispensável a ambas as partes." (Oscar Wilde em "O Retrado de Dorian Gray")

"A vida conjugal é simplesmente um hábito, um mau hábito. Mas lastima-se até a perda dos maus hábitos; talvez seja mesmo o que mais se lastime; os hábitos são uma parte essencial da personalidade." (Oscar Wilde em "O Retrado de Dorian Gray")

"Um homem pode ser feliz com qualquer mulher durante o tempo que não a ama..." (Oscar Wilde em "O Retrado de Dorian Gray")

"Quando uma mulher torna a casar-se, é porque detestava o primeiro esposo. Quando o mesmo se dá com o homem, é que ele adorava a primeira mulher. Estas procuram a felicidade, os homens arriscam a sua." (Oscar Wilde em "O Retrado de Dorian Gray")