sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Ser ou não ser "bom", eis a questão.

Será que realmente somos "bons" ao nascermos?

Simples, curto e grosso: a resposta é não. Ninguém nasce naturalmente bom (nem mau), mesmo porquê o conceito de "bom" ou "mau" é uma construção sócio-cultural; é um conceito criado para classificar/julgar/qualificar as pessoas e suas atitudes para com outros.

O filósofo Rousseau disse: "o homem nasce bom e a sociedade o corrompe" (ou algo desse gênero). De cara, refuto essa ideia pelo princípio citado acima. Então, eu mudaria a célebre frase de Rousseau para "o homem nasce naturalmente instintivo e a sociedade o adestra". Isso. O verbo é esse mesmo: adestrar. Sem querer entrar muito na questão do "Contrato Social" e a formação do Estado moderno (que acho super interessante), penso que de fato devemos/precisamos ser minimamente racionais para que consigamos viver em sociedade. Nossa cultura se baseia na vida em sociedade. À princípio não conseguiríamos viver isolados, de forma "selvagem". Sem a presença do estado "regulador" viveríamos  em pleno "estado de natureza" em uma "guerra de todos contra todos" (já utilizando conceitos de Hobbes). Então, o que hoje chamamos de ser "bom" é uma construção cultural para que possamos viver em sociedade (e olhe que não conseguimos isso plenamente).  Quanto ao verbo "adestrar" faço a comparação com relação ao verbo "educar". Resumidamente, já que essa discussão não é o objetivo desta postagem, entenda-se "adestrar" nesta postagem como um condicionamento imposto ao ser humano (normalmente as crianças pequenas) uma vez que elas ainda não têm "consciência" para entender o significado das coisas. Já o verbo "educar" acredito que é feito através do diálogo e do entendimento, ou seja, "convencimento" através das palavras e não de forma impositiva.

Seguindo com o objetivo das postagem, tenho me questionado sobre "ser bom" e "ser mau". Como disse, e reafirmando, ninguém é bom por natureza. Nós somos adestrados, condicionados, educados, impelidos a ser bom, a "fazer o bem", mas NÃO SOMOS assim naturalmente! Vou exemplificar: imagine que alguém passa na rua e pisa no seu pé ou te dá uma cotovelada "sem querer". Você viu que foi sem querer. Você sabe que não foi intencional. Qual sua primeira, primeiríssima reação? É gritar e/ou manifestar uma cara de dor, de incômodo, de "raiva" e em frações de segundos você "desconstrói" esse sentimento "ruim" - já que você é um ser social e educado ainda mais sabendo que foi sem querer - e de forma controlada você não reage de forma violenta. A pessoa em seguida, esperando que seja tão educada quanto você, pede "desculpa" e você reage com um "por nada" com um leve e falso sorriso no rosto. Por quê reagimos assim? Porquê somos educados e vivemos em sociedade; caso contrário seria um matando o outro por ter pisado no pé.

Bom, dado o exemplo (e poderia dar muitos outros similares), voltando ao "micro-tempo" entre a pisada e o pensamento racional, pensem comigo, a primeira reação, a primeira vontade, que vem de dentro do nosso ser, seria "revidar", se defender, "garantir nossa vida" de forma instintiva, quase que automática (Hobbes novamente). Ou seja, nós somos, sim, primeira e naturalmente "instintivos" e muitas vezes nossos instintos são "selvagens" e machucam, ferem e "matam" o outro. Nosso instinto nos leva a praticar atos que socialmente são julgados, classificados, qualificado como "ruins". 

Então, reformulando a frase de Rousseau, nós, seres humanos, somo naturalmente ruins! Nós somos "maus" por instinto, por princípio! Bom, a esse ponto, imagino que você, pela sua "educação", deve estar me xingando e descordando de mim - principalmente para aqueles que são mais "religiosos" (sim, isso foi direcionado - rsrsrsrs).

Bom, tudo isso dito, chego à uma conclusão: quer conhecer bem uma pessoa? Não procure ver o lado "bom" dela, mas sim o lado "mau". O lado bondoso de cada um é "falso". É uma mera máscara que todos nós usamos no dia-a-dia para sermos bem vistos e queridos. O lado "verdadeiro" é o lado ruim, maldoso, perverso. Esse sim, representará a verdadeira pessoa. A capacidade da pessoa em ter essa consciência e saber controlar/administrar essa "maldade" é que a faz interessante.

Para finalizar essa postagem, registro uma lembrança de quando eu era criança. Sempre quis ser querido e admirado por todos. E assim construí minha "máscara social". E fui exercendo essa "falsa bondade" em  troca de admiração, elogios, atenção e carinho. Até que adolescente (quase adulto) caí na real e percebi que gostavam de uma pessoa que não existia. Uma pessoa que ninguém imaginava poder fazer uma maldade com uma mosca. Que ilusão. O tempo foi passando e eu fui cada vez sendo mais realista e mais honesto comigo mesmo, dizendo e mostrando a todos que eu nunca fui bom e que não queria mais viver nesse "teatro de ser bom". E percebi que o lado perverso, sagaz, perspicaz, audacioso,  maldoso (e para isso é necessário uma certa dose de "inteligência"), também atrai pessoas. Claro que faço coisas "boas" - mesmo porquê vivo em sociedade e isso é necessário para se viver em grupo - se eu fosse instintivo (selvagem) continuamente certamente já estaria preso ou morto. Mas tenho clareza (e certeza) que essa "bondade" não é "à toa". Nada é em vão. Tudo é por interesse (essa afirmação cabe uma nova postagem).

Termino a postagem com uma frase que gosto muito de dizer: "Quando eu sou bom, eu sou ótimo. Quando sou mau, eu sou melhor ainda" (parafraseando Mae West).


"Os velhos dão bons conselhos para se redimirem de ter dado maus exemplos." 
(Marquês de Maricá)

"Lamentavelmente, os bons hábitos são muito mais fáceis de serem abandonados do que os maus." 
(W. Somerset Maugham)

"Todos amam os bons, mas exploram-nos. Todos detestam os maus, mas temem-nos e obedecem-lhes." 
(Vittorio Buttafava)

"Encontra-se oportunidade para fazer o mal cem vezes por dia e para fazer o bem uma vez por ano. " 
(Voltaire)

"Não fales bem de ti aos outros, pois não os convencerás. Não fales mal, pois te julgarão muito pior do que és."
(Confúcio)

"Quanta injustiça e quanta maldade não fazemos por hábito!"
(Terêncio)

"No fundo, não há bons nem maus. Há apenas os que sentem prazer em fazer o bem e os que sentem prazer em fazer o mal. Tudo é volúpia..."
(Mario Quintana)

"Quantas vezes a simples visão de meios para fazer o mal / Faz com que o mal seja feito!"
(William Shakespeare)

"As pessoas boas dormem muito melhor à noite do que as pessoas más. Claro, durante o dia as pessoas más se divertem muito mais."
(Woody Allen)

"Não é só a razão, mas também a nossa consciência, que se submetem ao nosso instinto mais forte, ao tirano que habita em nós."
(Friedrich Nietzsche)

"A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos."
(Sigmund Freud)